"Ela: -Quando a noite chegar cedo e a neve cobrir as ruas, ficarei o dia inteiro na cama pensando em dormir com você.
Ele: -Quando estiver muito quente, me dará uma moleza de balançar devagarinho na rede pensando em dormir com você.
Ela: -Vou te escrever carta e não te mandar.
Ele: -Vou tentar recompor teu rosto sem conseguir.
Ela: -Vou ver Júpiter e me lembrar de você.
Ele: -Vou ver Saturno e me lembrar de você.
Ela: -Daqui a vinte anos voltarão a se encontrar.
Ele: -O tempo não existe.
Ela: -O tempo existe, sim, e devora.
Ele: -Vou procurar teu cheiro no corpo de outra mulher. Sem encontrar, porque terei esquecido. Alfazema?
Ela: -Alecrim. Quando eu olhar a noite enorme do Equador, pensarei se tudo isso foi um encontro ou uma despedida.
Ele: -E que uma palavra ou um gesto, seu ou meu, seria suficiente para modificar nossos roteiros.
(Silêncio)
Ele: -Mas não seria natural.
Ela: -Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem.
Ele: -Natural é encontrar. Natural é perder.
Ela: -Linhas paralelas se encontram no infinito.
Ele: -O infinito não acaba. O infinito é nunca.
Ela: -Ou sempre."
Ele: -Quando estiver muito quente, me dará uma moleza de balançar devagarinho na rede pensando em dormir com você.
Ela: -Vou te escrever carta e não te mandar.
Ele: -Vou tentar recompor teu rosto sem conseguir.
Ela: -Vou ver Júpiter e me lembrar de você.
Ele: -Vou ver Saturno e me lembrar de você.
Ela: -Daqui a vinte anos voltarão a se encontrar.
Ele: -O tempo não existe.
Ela: -O tempo existe, sim, e devora.
Ele: -Vou procurar teu cheiro no corpo de outra mulher. Sem encontrar, porque terei esquecido. Alfazema?
Ela: -Alecrim. Quando eu olhar a noite enorme do Equador, pensarei se tudo isso foi um encontro ou uma despedida.
Ele: -E que uma palavra ou um gesto, seu ou meu, seria suficiente para modificar nossos roteiros.
(Silêncio)
Ele: -Mas não seria natural.
Ela: -Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem.
Ele: -Natural é encontrar. Natural é perder.
Ela: -Linhas paralelas se encontram no infinito.
Ele: -O infinito não acaba. O infinito é nunca.
Ela: -Ou sempre."
(O dia em que Júpiter encontrou com Saturno- Caio Fernando Abreu)
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